2011-02-28
Diga-me com quem falas que te direi quem és, onde moras, até onde estudaste, o que comes, e principalmente, quanto ganhas!
A escrita inventada por volta de 4.000 antes de Cristo, é um fabuloso instrumento usado pela humanidade para comunicarem-se entre pessoas ou comunidades inteiras de mesma ou diferentes épocas. Era comum antes da popularização da escrita e impressão, que os ensinamentos fossem passados de gerações para gerações. O melhor método para a caça ou a pesca, as crenças de um povo, os melhores remédios e como prepará-los. Tudo isso era passado em forma de cantigas ou histórias, ou mesmo simples conversas.
Imagine agora pensar que a língua em que fosse "transcrito" o livro mais popular e vendido do mundo, a Bíblia, tivesse sofrido incontáveis alterações de sentido apenas em função da tradução de um idioma para outro ou apenas de reescrição. Pois é, suspeito, e tenho fundadas razões, para acreditar que isso tenha ocorrido. Meu nome é biblico, pelo menos é o que diz em Gênesis (46,9 e 46,12), Êxodo (6,14), Números (26,6 e 26,21), Josué (15,3 e 15,25), Rute (4,18 e 4,19), I Crônicas (2,5, 2,9, 2,18, 2,21, 2,24, 2,25, 4,1 e 5,3), e pode ser facilmente encontrado em no mínimo 16 formas dependendo da linguagem em que está escrito a Bíblia. Isso tudo em uma única palavra. Imagine o que poderia causar em um conjunto e alterando seu sentido. Poderia, por um erro de interpretação, Judas não ser o "traidor" e nem Abraão, Joseph Smith, Maomé ou Buda um "profeta"?
Como diria Dirceu Rabelo, muita confusão!
O som do trovão é único e inconfundível não é? e como escrevê-lo?...
...
...
Não consegui.
Coloque-se então no lugar de um surdo "lendo" um filme através de Closed Caption descrevendo o som: [trovão]... Perde-se toda a graça!
Bom, mas e o que tudo isso tem a ver com preconceito? Pois bem. É preciso contextualizar melhor o problema para que se possa entender melhor a magnitude.
A transcrição por meio de simbologia do trovão, em Closed Caption, é um exemplo claro de como a importância da fala supera em muito a da escrita no curto prazo, no tempo real e a escrita supera o poder da fala em tempo passado ou futuro.
Não se pode falar o som do trovão, que dirá escrevê-lo... eu poderia inventar um símbolo que o descrevesse mas como a variedade de sons emitidos por diferentes trovões invalidaria sua real tonalidade e força com uma simples letra ou conjunto delas.
É o que acontece com a formação e normatização da escrita. Nós tentamos reproduzir/eternizar algo por meio de escrita, e também por áudio e vídeo, aquilo que é inviável ficar reproduzindo o tempo todo para um monte de pessoas.
Marcos Bagno nos traz muito bem essa idéia explicando-nos que a fala nada mais é do que um processo e um produto ao mesmo tempo. Que ela evolui e que seu resultado nunca fica pronto, mas sim que existem divisores de água que marcam o que se chama de forma correta de escrever ou pronunciar como a reforma ortográfica por exemplo. A língua é muito mais que uma escrita ou a maneira de falar, é uma constante modificação dos conceitos e contextos em que está inserida.
É muito mais um preconceito social do que um preconceito linguístico, afirma Marcos, ao demonstrar que alguns grupos da sociedade mais "chegados" com a norma culta também cometem inúmeros deslizes tanto na forma de escrita quanto de fala e nem por isso são rechaçados por integrantes de seu grupo de mesmo nível intelectual, mas que recriminam descaradamente alguém menos instruído que cometa os mesmos erros.
A partir desse preconceito social, uma pessoa que fala "errado" pode até ser pré-definida, e muitas vezes o sofre, em uma classe social baixa, em uma escola ruim, com que tipo de pessoas interage intelectualmente e até quanto ganha.
Aquela história da Torre de Babel, que foi destruída para que o homem não alcançasse o céu por uma construção sua, e que foi então, a humanidade, "castigada" fazendo com que um não entendesse ao outro, ou seja, a criação de diferentes línguas é uma historinha bonitinha para um conto de fadas contudo perigosa e ignorante para explicar o surgimento de culturas diferentes.
O inglês tornou-se a língua oficial para comunicação a nível mundial. Este mesmo inglês que foi reconstruído com a libertação da colônia inglesa e de "língua filha" passou a ser a "mãe de todas" com a popularização principalmente do cinema norte-americano.
Sempre me questionava o porquê dos povos todos não falarem a mesma linguagem. Facilitaria muito pra todo mundo. Vim a compreender mais tarde que a antropologia, a psicologia, a geografia e até a matemática nos ajudam a compreender a diversificação tanto da fala quanto da escrita. Um povo inventa gírias, que podem ou não ter sentido inicialmente, depois passam a ter, se não isoladamente em um contexto, e depois passam a ser incorporadas no dialeto. E este é só um exemplo de como a língua se altera. E a coitada da escrita sempre se martirizando ao tentar acompanhá-la.
Hesron Hoffmann Hori sabe escrever e até falar todas as linguagens listadas aqui.
2011-02-25
HÁ VAGAS!* - *Exceto para Mestres e Doutores!!!
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| Estudantes em Laboratório |
O Brasil oferecia até então, 2007, pouquíssimas vagas para mestres e/ou doutores a não ser no próprio âmbito acadêmico. Segundo Luiz de França da revista Você S/A o cenário hoje é completamente diferente, embora alguns dados sejam ainda contraditórios.
Um dos motivos apontados por recrutadores é de que, resumidamente, focam mais a prática e resultados do que a teoria. Ou seja, preferem escolher quem seja menos titulado e tenha mais experiência do que contratar alguém bem titulado com pouca ou nenhuma experiência/vivência no mercado. Dizem também que as universidades hoje ainda os prepara de forma inadequada para o mercado e além do mais contratar profissionais bem titulados geralmente custa mais caro, pesando na decisão.
A edição 152, de fevereiro de 2011, da revista Você S/A traz uma tabela mostrando que em 2009 o número de mestres e/ou doutores chegava na casa dos 50 mil frente os 16 mil de 1998. é uma grande massa bem qualificada e que ainda assim são rejeitados em nosso mercado.
Uma coisa é certa: países ou empresas que registram mais patentes, ou seja desenvolvem pesquisa, absorvem maior parte da mão de obra titulada além da graduação. Um belo exemplo é a Genzyme do Brasil, do ramo farmacêutico, que tem 60% de seus colaboradores com titulação de mestre, doutor ou ambos.
O artigo ainda cita países como Alemanha, Canadá, Japão, Inglaterra e Estados Unidos, com 97% das patentes registradas por empresas e só 3% das patentes produzidas pelas universidades. No Brasil a estatística é inversa. A academia corresponde por 61% das patentes criadas.
Não passa de uma questão econômica e cultural. O Brasil sempre teve muitos recursos e sempre os explorou. Ao invés de desenvolver uma tecnologia para o melhor manejo e consequentemente o melhor aproveitamento da cultura do café por exemplo, o país até pouquíssimo tempo (e isso mudou por causa de tecnologia estrangeira), apenas plantaria mais.
A lei do "mais forte sobrevive" dizimaria o país caso houvesse (como já vem acontecendo) catastróficos desastres naturais, impedindo o uso da terra, seja ela para a criação de animais, cultivo de plantas ou extração de minério, estaria falido. Seria talvez tarde demais para desenvolver novas habilidades para adequar-se ao novo cenário cultural e climático. É por esse motivo que nas eleições à presidência da república em 2010 ouviu-se tanto falar em "sustentabilidade".
Somos tecnologicamente atrasados. O governo dá poucos incentivos para a pesquisa e desenvolvimento da nossa capacidade intelectual.
É mais fácil e mais bonito, a curto prazo, mostrar a balança comercial positiva em função dos investimentos na agricultura e prestigiar a sucessão de um governo que não quis e não quer passar a impressão de que apenas ajudou aos pobres mas a toda a nação, inclusive sua economia, do que aceitar e encarar uma "derrota financeira" a curto prazo e alavancar o desenvolvimento real do país - como fez com Collor ao começar a abrir o mercado interno para o mundo, ou FHC ao começar um longo processo de estabilidade da moeda e consequentemente da economia - de sua capacidade intelectual e não somente de seus recursos.
Veja o Japão e a Alemanha. São países pequenos e com poucos recursos naturais favoráveis ao desenvolvimento econômico e são a terceira e a quarta maior economia, respectivamente, graças ao fomento à pesquisa e desenvolvimento. Isso quer dizer planejamento e pesados investimentos em educação.
Hesron Hoffmann Hori tem Mestrado em Stanford, Doutorado em Columbia e Ph.D pelo Instituto Universal Brasileiro e está atualmente desempregado.
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